Vai pedir demissão? Esses são os seus direitos e deveres

Por Anna Alves Neres • Publicado em 3 Novembro 2025 • Tempo estimado de leitura: 9 minutos

Pedir demissão é um procedimento formal e voluntário que deve seguir as regras estabelecidas pelo Código do Trabalho. Conhecer os prazos legais e cumprir as obrigações previstas é essencial para assegurar uma rescisão correta. Do aviso prévio à entrega da carta de demissão, a conduta profissional é fundamental para garantir uma saída tranquila e sem prejuízos.

Passo a passo sobre como pedir demissão em Portugal com os direitos assegurados.
A carta de demissão formaliza o processo de saída do seu emprego em Portugal, garantindo o aviso prévio.

O processo de demissão

Decidir deixar um emprego é um passo significativo, seja por motivos pessoais ou por uma nova oportunidade profissional. Em Portugal, este procedimento é formalmente designado Denúncia do Contrato de Trabalho por Iniciativa do Trabalhador.

Em termos simples, trata-se do direito do trabalhador de rescindir o contrato de forma voluntária e unilateral. No entanto, esse direito deve ser exercido com atenção às regras legais, especialmente aos prazos de aviso prévio e às condições estabelecidas no Código do Trabalho.

Qualquer pessoa com contrato de trabalho ativo pode pedir demissão. Isto inclui contratos sem termo (indeterminado), a termo certo (temporário) ou a termo incerto.

O trabalhador pode fazer o pedido por decisão voluntária, sem precisar justificar o motivo. No entanto, ele deve sempre respeitar os prazos de aviso prévio definidos pelo Código do Trabalho. Estes variam conforme o tipo e a duração do contrato.

Aviso prévio para pedido de demissão

A duração do aviso prévio para a rescisão varia conforme o tipo de contrato e a antiguidade do profissional na empresa.

Já a contagem do aviso inicia-se no dia imediatamente a seguir à receção formal da carta pela entidade empregadora. Neste período, o trabalhador deve cumprir as suas funções habituais e colaborar ativamente na transição.

Tipo de contratoAntiguidade na empresaPrazo mínimo de aviso prévio
Contrato sem termoAté 2 anos30 dias
Contrato sem termoMais de 2 anos60 dias
Contrato a termo (Certo/Incerto)Menos de 6 meses15 dias
Contrato a termo (Certo/Incerto)Igual ou superior a 6 meses30 dias
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É possível negociar o prazo do aviso prévio com o empregador, desde que todo acordo seja formalizado por escrito.
Acordos coletivos e contratos especiais

Se o seu setor estiver abrangido por CCT/ACT ou existir regulamento interno, confirme se há regras próprias para prazos de aviso, forma de entrega da carta ou compensações. Em banca, saúde e hotelaria, por exemplo, podem existir prazos superiores para cargos de confiança. 

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Em caso de dúvida, valide com RH ou com o sindicato.

Se demitir sem o aviso prévio

Pedir demissão sem cumprir o aviso prévio é possível, desde que sejam observadas as regras legais e eventuais acordos entre as partes, a fim de evitar consequências financeiras e jurídicas. Se não cumprir o prazo obrigatório, o profissional pode ser responsabilizado e ter de compensar a empresa pelo período de aviso prévio em falta.

O valor da indenização corresponde aos dias de aviso prévio não cumpridos e costuma ser descontado no acerto final, que inclui salário, férias e eventuais subsídios devidos.

Demissão sem aviso prévio durante o período experimental

Em regra, o período experimental é a principal exceção em que o trabalhador pode rescindir o contrato sem aviso prévio ou penalizações, desde que o período não exceda 60 dias. Caso exceda esses dois meses, o trabalhador mantém o direito de sair sem aviso, ao contrário do empregador, que já precisa de dar 7 dias.

Se estiver fora dessa fase, o cumprimento do aviso é obrigatório, a menos que ambas partes tenham feito um acordo escrito. Neste caso o empregador pode dispensar parcial ou totalmente a obrigação.

Demissão sem aviso prévio em caso de rescisão com Justa Causa

Outro caso em que o aviso prévio não precisa ser cumprido é quando há uma rescisão de contrato com justa causa. Isso acontece, por exemplo, quando o empregador comete uma falta grave, como atraso salarial superior a 60 dias, violação de direitos ou condições laborais inseguras. 

Para tal, o profissional deve comunicar a decisão por carta registada, que deve incluir a descrição dos factos, conforme previsto no artigo 394.∘ do Código do Trabalho. Aqui ele também pode adquirir o direito a indemnização e ao subsídio de desemprego.

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Ainda assim, mesmo quando a lei não exige, é boa prática comunicar a decisão com antecedência e demonstrar profissionalismo.
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Documentos a solicitar na saída

  • Certificado de trabalho (datas e funções).
  • Último recibo de vencimento e comprovativo do acerto final.
  • Declaração de cessação/rescisão para arquivo.
  • Mapa de férias (gozadas e não gozadas).
  • Comprovativo de devolução de equipamentos, cartões e credenciais.
  • (Se justa causa/desemprego) Modelos e declarações necessários para IEFP/Segurança Social.

Carta de demissão por parte do trabalhador

A carta de demissão (também chamada de carta de rescisão de contrato ou carta de despedimento) é o documento que formaliza a decisão do profissional de cessar o vínculo laboral. Este documento deve conter:

• Nome completo do trabalhador e identificação da empresa
• Data de entrega da carta
• Declaração clara da intenção de rescindir o contrato
• Data efetiva do término do contrato, respeitando o aviso prévio
• Assinatura do trabalhador

📁Templates em PDF e Word prontos para descarregar

Carta de Demissão (com aviso prévio)

Carta de Demissão (sem aviso prévio por justa causa)

Carta de Demissão (período experimental – sem aviso/aviso reduzido)

Descarregar template carta de demissão sem aviso Word

Formas de entrega

O trabalhador deve entregar a carta de demissão por um meio que comprove a data oficial de receção pelo empregador. Isto garante que o aviso prévio é válido e evita disputas futuras.

A entrega pode ser feita em mão, com assinatura de receção pela empresa, ou por carta registada com Aviso de Receção (AR). Outra opção é por email, caso seja uma ferramenta habitual do contratante.

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Entregar por WhatsApp ou meios informais sem confirmação pode acarretar problemas legais por faltar comprovação da data de comunicação.

O que o trabalhador recebe ao pedir demissão

A lei garante alguns direitos ao profissional que sai da empresa. São eles:

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Não há direito a indemnização ou subsídio de desemprego na denúncia voluntária, salvo se se tratar de rescisão com justa causa, como em casos de salários em atraso graves.
Simulador de compensação por cessação de contrato de trabalho

Para facilitar este processo, o simulador da Autoridade para as Condições do Trabalho calcula os montantes previstos por lei, incluindo a compensação quando aplicáve. Esta ferramenta permite ao trabalhador planear a sua saída com maior segurança e transparência.

Exemplo do cálculo da indemnização por falta de aviso: Se não cumprir 30 dias de aviso e o seu salário-base mensal (com diuturnidades) é 1 200 €, a compensação ≈ 1 200 €/30 × 30 = 1 200 €. Para 10 dias em falta: 1 200 €/30 × 10 = 400 €. Este valor é normalmente descontado no acerto final.

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Erros comuns a evitar:

  • Indicar data de término sem respeitar o aviso prévio aplicável.
  • Entregar a carta por meios informais (WhatsApp) sem prova de receção.
  • Não assinar ou omitir dados essenciais (NIF, função, data).
  • Não guardar comprovativos (AR, email com cabeçalhos).
  • Confundir demissão (iniciativa do trabalhador) com despedimento (iniciativa do empregador)—direitos e pagamentos são diferentes.

Garantindo uma saída profissional e segura

Pedir demissão é um processo que culmina com a sua total autonomia profissional. O sucesso da rescisão reside em apenas dois pontos fundamentais: formalizar por escrito e cumprir integralmente o aviso prévio (salvo acordo com a empresa).

Ao seguir estes passos, garante os seus direitos e evita penalizações financeiras. Isto inclui a correta liquidação do acerto de contas final (salários, férias e subsídios proporcionais), além do Certificado de Trabalho.

Perguntas frequentes (FAQ)

1. O trabalhador pode anular a carta de rescisão?

Sim. É possível revogar a carta de demissão no prazo de 7 dias após a receção pela entidade empregadora, desde que não tenha sido assinada com reconhecimento notarial.

2. O que acontece se não cumprir o aviso prévio?

A empresa pode descontar no acerto final o valor correspondente aos dias em falta (salário base + diuturnidades).

3. E se o empregador não aceitar a rescisão?

A denúncia do contrato é um ato unilateral, e a entidade empregadora não pode recusar. Se a carta foi entregue por meios legais (por exemplo, carta registada com AR), o contrato termina na data indicada.Em caso de conflito, contacte a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT).

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Anna Alves Neres
Jornalista com especialização em Comunicação Global e mestrado pela Universidad San Pablo CEU, em parceria com o diário El Mundo. Atuo com jornalismo internacional, cobrindo temas globais e narrativas humanas, e também colaboro com o servicopublico.pt.

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